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terça-feira, 20 de março de 2012

O Luxo na Classe C



Meses atrás fiquei pensando, o que é luxo? 
O que é luxo para  mim? 
O que é luxo para a classe C brasileira ? 
Mais complicado  ainda, será que existe luxo, o conceito de luxo na classe c brasileira? 

Foram estas dúvidas que me fizeram realizar a pesquisa o Luxo  Para a Classe C. Começamos a pesquisa. O primeiro ponto de atenção aconteceu  quando perguntamos se existia luxo na vida de uma pessoa  moradora da Base da Pirâmide. No começo, eles relutavam  em dizer que existia luxo em suas vidas, depois começavam  a pensar e declaravam existir luxo sim. E foi a partir daí que  começamos a entender o que era luxo para a classe C. 

Eles dividem o luxo em três. O luxo inacessível, o luxo da autoestima e o luxo da inclusão. Vamos lá, vamos ver o que significa cada um deles.

O luxo inacessível. Esse luxo é aquele que essa classe social não sabe muito bem o que é. É o luxo de quem vive em prédios de alto padrão, em mansões, o luxo de quem anda em carrões que eles não sabem de que marca são. Ou seja, eles sabem que existe o mundo do super luxo, mas não possuem repertório, conhecimento de causa para dizer quais são as marcas que existem neste mundo, quais são os símbolos, quais são os signos.

O 2º luxo. O luxo da auto-estima. Hoje, finalmente as pessoas da Nova Classe Média brasileira podem comprar suas roupas prediletas, e estar bem vestido é um luxo. Pois está relacionado com a imagem que a pessoa transmite. E para isso, é necessário escolher e combinar as roupas de forma adequada. O mundo das marcas viaja pelo imaginário da Nova Classe Média brasileira. E mesmo as marcas mais luxuosos. Para você ter uma idéia, a bolsa Chanel é super bem vista, e não importa que seja réplica, pois as réplicas são de boa qualidade. A Nova Classe Média só não aceita réplicas de produtos de higiene e beleza, ou aqueles que possam afetar a sua saúde. Por exemplo, batom, pó de arroz, óculos, etc. Dinheiro não é economizado para cuidar da beleza, ouvimos até uma mulher da Nova Classe Média brasileira dizer: “Já deixei de comprar o leite do meu filho para poder colocar minhas unhas de porcelana, que são muito caras...” ou outra dizer também “Olha! Eu tenho mil reais em cabelo nessa cabeça aqui!!!”. E o resumo disso tudo é que elas falam que o importante é ter estilo. E quando falam isto falam na verdade em ter um senso estético apurado, saber combinar as roupas, as cores, os acessórios. E nesse imenso funil está também a sensação de pertencimento, de estar dentro da turma, na roda de amigos como um igual.  Usando as mesmas roupas, usando os mesmos signos, repartindo os mesmos desejos.

O 3º luxo. O luxo do pertencimento. Eu, você, todos nós muitas vezes não somos bem recebidos nas lojas, somos mal atendidos. A Nova Classe Média brasileira nunca, repito, nunca foi bem recebida em lugar algum. E coloca porta-giratória, e coloca lavre na bolsa, e coloca segurança colado no cliente. Por isso, um grande luxo é ser bem recebido, estar pronto para freqüentar qualquer lugar de maneira digna. Eles disseram que entrar em um lugar bem vestido é a certeza de ser melhor atendido, de serem vistos com menos preconceito. Os jovens da NCM querem ter uma boa imagem na comunidade em que vivem, no trabalho e entre os amigos. Convivem com uma grande necessidade de aceitação, pois em muitos momentos sentem-se isolados do mundo em que vivem – não têm acesso a muitos itens.  Esses jovens querem usar aquilo que está na moda, na mídia. Provavelmente para os pais deles esse desejo era inatingível, mas com o aumento da renda já é possível se dar alguns “luxos”.Diferente das classes A e B, que buscam exclusividade, a NCM busca inclusão. Querem ter aquilo que todos têm.Para mim, André Torretta luxo é viver em um país onde pela primeira vez estamos entendendo que nós não somos os Estados Unidos, nem a Europa. Nós somos nós.

André Torretta, brasileiro, autor do livro Um Mergulho na Base da Pirâmide.

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