Empresas criam testes e utilizam dados disponíveis na internet para encontrar candidato perfeito a uma vaga em uma empresa
SÃO PAULO – Eliminada de processos seletivos na área de recursos
humanos por ser formada em jornalismo, Anamaíra Spaggiari, de 24 anos,
aceitou a sugestão de um amigo para testar um tipo diferente de
recrutamento, a partir de um teste online.
O algoritmo criado pela startup brasileira 99jobs promete colocar
jovens de 18 a 24 anos em contato com vagas e empresas com alto grau de
compatibilidade com seus objetivos. A seleção é feita com base nas
respostas de um questionário virtual. Anamaíra se candidatou para uma
vaga de analista de negócios na Fundação Estudar, que segundo o site
tinha mais de 90% de compatibilidade com seu perfil. Em dez dias estava
contratada. “Foi um processo que considerou minha experiência e não a
formação”, diz.
Na 99jobs o currículo está fora do processo inicial de seleção. “Não
nos importamos com o curso que a pessoa fez e se ela é comunicativa ou
introspectiva. Consideramos com que tipo de trabalho, pessoa e ambiente
aquele candidato quer se conectar”, diz Bárbara Teles, gerente de
relacionamento da startup.
Softwares como esse são pouco conhecidos no Brasil, mas estão
ganhando força nos Estados Unidos, onde o uso deles já ganhou um nome:
workforce science (algo como a ciência da força de trabalho).
Trata-se do uso da tecnologia de análise de dados, conhecida como Big
Data, para aprimorar os processos de recursos humanos. Com a tecnologia
é possível correlacionar dados de um candidato com base em diversas
fontes – um teste online, informações armazenadas online ou no
computador do trabalho. A análise ajuda a entender como a pessoa se
comunica, que tipo de desafio prefere e quais empresas têm mais o seu
perfil.
Para se ter ideia do potencial de mercado, o site eHarmony – popular
serviço dos EUA para encontrar casais compatíveis – está atualizando o
algoritmo do seu teste de compatibilidade amorosa para lançar uma versão
para o mercado de trabalho.
A mesma tecnologia também pode ser usada para fazer as empresas
chegarem ao candidato ideal – algo especialmente interessante em países
com baixos índices de desemprego. “Quem está feliz no trabalho não vai
olhar sites de vagas. Com as redes sociais, conseguimos fazer as
empresas chegarem aos candidatos passivos, que hoje são 80% da nossa
base, a partir de filtros de características”, diz Milton Beck, diretor
de vendas do LinkedIn.
Criada em 2007, a Evolv é uma das empresas que estão popularizando a
workforce science nos EUA. “Da mesma forma que o Google diz a uma pessoa
o que comprar, nós dizemos quem contratar, como o empregado vai atuar e
quando vai sair”, diz o cofundador e vice-presidente Jim Meyerle.
A startup, que recebeu US$ 42 milhões em investimento, desenvolveu um
sistema para reunir e analisar dados de funcionários de áreas variadas
ao longo da carreira – desde a contratação até a demissão. Assim, ela
define os fatores que aumentam as chances de sucesso na contratação. Em um trabalho para a Xerox, a Evolv descobriu que a capacidade
criativa, e não a experiência na área, aumenta a chance de um candidato
permanecer por mais tempo no emprego.
A Gild, outra startup norte-americana, criou um software para avaliar
programadores com base nos trabalhos publicados por eles na internet.
Isso fez com que candidatos, antes eliminados de processos seletivos,
fossem contratados pelas empresas certas. “Muitos profissionais estão
interessados em entrar na indústria de tecnologia e aprender novas
habilidades fora da sua formação. Nós usamos a Big Data para descobrir
novos talentos”, diz Michael Stapleton, vice-presidente de marketing da
Gild.
www.estadao.com.br
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